Opinião

Os bons velhos tempos que nunca foram

Muitas são as ocasiões em que por isto ou aquilo se diz que antigamente é que era bom ou que os bons velhos tempos é que eram bons! De fato a concepção que por vezes se tem do passado, é a daquilo que de bom nos aconteceu em determinado contexto e circunstância. Vem isto a propósito das considerações que se fazem acerca dos sistemas de saúde, não especificamente do nosso, mas dos estudos comparativos dos vários sistemas no que diz respeito à sua performance e aos indicadores baseados em resultados, nomeadamente quando se afirma que estão piores. Pode supor-se que querem dizer que nos “bons velhos tempos é que era melhor”. Analisando-se formas de financiamento, prestação de serviços de saúde, a cobertura populacional, os meios disponibilizados e os indicadores, mesmo nos países em que se efetuaram reformas significativas no sistema, um dado não é comum. Com o mesmo orçamento relativo uns aproximaram-se mais do que outros dos índices de referência relacionados com os “outcomes” nos consumidores de saúde europeus. A diminuição de mortes por doenças cardiovasculares, a diminuição de mortes por acidentes vasculares cerebrais, a redução da taxa de mortalidade infantil, a sobrevida ao cancro, as taxas de aborto espontâneo, o potencial de anos perdidos aferido pela longevidade alcançada, a cobertura por programa de vacinação, o número de cirurgias a cataratas por 100.000 habitantes com idade =>65 anos e muitos outros, constituem alguns destes índices comparativos. A RAA, em termos comparativos, dada a sua dimensão populacional e particularidade de ter um Serviço Regional de Saúde, insere-se na colheita destes dados, como uma sub-região, tal como acontece em Itália, Espanha e noutros países onde em algumas regiões os serviços de saúde estão regionalizados. Ao analisarmos estas variáveis, mesmo as que se prendem com as famosas listas de espera para cirurgia e consultas , sendo um mal em quase todos os sistemas, independentemente de politicas de financiamento específico para as eliminar, como aconteceu na Suécia em que o sucesso não foi diretamente proporcional ao investimento, concluiremos sempre que as estratégias para melhorar a equidade e a acessibilidade aos cuidados de saúde, deva ser uma prioridade e um desiderato a que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista se associe com propostas de resolução. Mas também quer dizer que se fosse fácil para alem de nós, outros já o teriam feito com total sucesso e uma coisa é certa, os bons velhos tempos, nunca o foram nesta matéria.